26.12.08

O Cocô

Jorge estava sempre irritado com a sujeira no vaso. Richard não entendia por que.
Jorge passava um bom tempo limpando. Richard continuava sem entender.
Jorge se abaixava e esfregava o fundo do vaso. E Richard olhando TV.
Jorge cansou e Richard perguntou:
- Qual o problema?
- O que tu anda comendo?
- Ué. Por que?
- A sujeira está pior que nunca.
- Ah, não sei... Não tá saindo?
- Não.
- Hum...
Richard virou para a TV e Jorge voltou a limpar.

Então Richard resolve falar:
- Jorge.
- Fala-se hórhe!
- Tá. Hórje, lembra aquela carne de semana passada?
- Tu comeu ela? Tá explicado.
- Era a minha mão.

5.12.08

O Preço

- Que palhaçada. É sempre igual, sempre a mesma coisa.
- É...
- É palhaçada mesmo. Só podem ter pirado.
- Quem sabe um dia mudem.
- Mudem? Ha. Sonha.
- Tu podia ser mais otimista de vez em quando.
- Pra quê? Pra ter decepções maiores? Pra iludir a mente com uma falsidade maravilhosa?
Como uma enorme mentira?
- Pra ser um pouco mais social...
- Social?
- É...
- Não preciso disso. Vivo bem sozinho.
- Nem teu dedo te aguentou...
- É mesmo...
- Daqui a pouco vai a mão.
- Nem me fala!
- É o preço.
- Preço do que?
- De ser assim!
- Que seja. Pago o preço.

9.4.08

A Felicidade

Jorge nunca escondeu sua alegria perante quaisquer baboseiras.

Foi quando ele conheceu sua maior alegria que teve de esconder
a sua empolgação para não fazer fiasco.

Era algo precioso desde o dia que o conheceu.

Não o largava.

Ia no banheiro, na igreja, na zona, no Porão Show Bar e sempre
o levava junto.

Era ele.
E o Push Pop.

1.4.08

A Volta

Richard e Jorge em:

Hórhe

Era apenas uma tarde nublada de primeiro de abril.

Ninguém estava nem aí.

Tudo que importava naquele momento era a tevê de madeira, ou pelo menos o que sobrara da madeira. E, claro, o único canal que pegava - apesar de ninguém entender o que falavam.
-Malditos cupins! - disse Richard, irritado como se esperava.

Jorge parecia angustiado.

Richard notara que sua lepra havia subido para além de seus nove dedos da mão. Já a percebia no pulso.

Jorge ainda angustiado.

Richard, com raiva da hanseníase, não move sua mão com medo de perdê-la.

Jorge chega para Richard. Meio cagão. Meio inspirado.
-Richard, preciso te dizer.
-Diga.
-É sério.
-Sempre é.
-Mas dessa vez é mais que nunca.
-Diga logo!
-É sobre meu nome.
-Que é que tem?
-Tu fala ele errado.
-Ahn?!
-Fala-se HÓR-HE.


Prelúdio III

Richard e Jorge em:



Aparições Divinas


Reza a lenda que haviam acontecimentos extraordinários naquele canto da cidade
(o lugar era conhecido como aquele canto pois ninguém teve a criatividade de batizá-lo)
e foi para lá que Richard e Jorge se bandearam.



Foram com sua van lotada de coisas (uma tevê e uma poltrona que os dois revezavam
para assistir a tevê de um canal, canal esse falado numa língua dosdemo) até que envane-
zaram naquele canto.


-Que merda de lugar, disse Richard.
-Bah cara, parece ser tri!, retrucou Jorge.

A dupla organizou sua moradia: um trailer.


O trailer era de madeira e o pessoal da desincupização abandonou o ramo pois não
conseguiu resolver o caso.


A tevê também era de madeira.

Richard resolveu dar uma volta.


Quando foi sair, avistou à porta um ser com uma aura branca e uma coroa.
Era Cristo. Jesus Cristo.


-Será que o cara precisa de ajuda?, perguntou Jorge.

-Que nada!

-Sai da frente, ninguém te convidou! - Richard atrovejou ao empurrá-lo e
deixá-lo estatelado no barro daquele canto.


Prelúdio II

Triste Fim Do Beto's Bar - CMRJ

Numa bela noite de segunda-feira (eita dia pouco cinematográfico!) Raymmond vai até o Beto's Bar, seu canto preferido que antes era chamado de Meneghini's, e encontra Richard, a quem conheceu em um carteado quando foi a Roma visitar uns parentes e cuidar de seu sítio:
-E aí Rich, tudo tranquilo?
E Richard suando frio:
-Er, mais ou menos...
-Mas o que foi que aconteceu contigo cara?
-To com lepra.
-Oh, então me diz onde fica o banheiro.
Richard aponta a direção:
*PLOFT*
-Mas que..
E Richard e Raymmond são expulsos do Beto's Bar, que logo faliu pois a antiga clientela do Meneghini's não estava acostumada com cerveja e futebol...
Se é que vocês entendem...



Do triste livro: Contos Macabros de Richard e Jorge - Summer Edition

Prelúdio I

Da triste série contos macabros de richard e jorge:

Richard fala em tom melancólico para o Jorge, seu colega de quarto:
-Acabei de cagar.
E Jorge insólito:
-Bom pra ti!
-Mas espera eu terminar... Quando me limpei, tinha algo vermelho, acho que era um pedaço de carne.
-Ta, mas o churrasco não tava tão mal-passado assim...
-Quem falou em churrasco?
-E seria carne de mais o que?
E Richard retruca em tom cálido, pálido, gélido:
-Minha.